A importância da saúde intestinal na produção avícola
A saúde e integridade intestinal são cruciais para o sucesso da produção avícola. O intestino desempenha funções críticas, essenciais para o crescimento e a saúde das aves, incluindo a digestão dos alimentos, a absorção de nutrientes e água, e a defesa imunológica contra patógenos. Morfologicamente, o trato gastrointestinal é um tubo oco que se estende do bico à cloaca, responsável pela conversão dos alimentos em nutrientes absorvíveis. Além de realizar a digestão e absorção dos nutrientes para garantir a energia e os nutrientes necessários para o desenvolvimento das aves, o intestino atua como uma barreira física contra infecções, protegendo o organismo de patógenos e toxinas, ao mesmo tempo que mantém uma microbiota diversa essencial para o desenvolvimento imunológico e manutenção da saúde da ave. É importante ressaltar que a microbiota intestinal equilibrada (eubiose) é fundamental para o bem-estar e saúde, resultando em qualidade de mucosa intestinal e contribui positivamente com a absorção dos nutrientes provenientes da ração, com consequente melhora no desempenho produtivo.
Como melhorar a saúde intestinal do meu plantel?
Por Warley Alves, Analista de Desenvolvimento de Nutrição de Aves
Nos animais, o trato intestinal é o maior órgão imunológico, bem como, um dos órgãos com a maior área de superfície em contato com o meio ambiente. O intestino desempenha papel vital como barreira a elementos nocivos como bactérias patogênicas, vírus e parasitas. Além disso, reduz a exposição a toxinas e patógenos, ao mesmo tempo que promove a absorção de nutrientes e a excreção de resíduos. Suas células especializadas são responsáveis pela produção de peptídeos antimicrobianos, como as defensivas, que possuem a capacidade de destruir microrganismos patogênicos. O sistema imunológico intestinal, altamente desenvolvido, contém uma grande quantidade de tecido linfoide associado a mucosa, onde células imunológicas, como linfócitos, macrófagos e células dendríticas, detectam e respondem rapidamente a patógenos, promovendo a produção de anticorpos e ativando respostas imunológicas adaptativas. Além disso, a microbiota intestinal, composta por microrganismos comensais e transitórios, é crucial para a saúde digestiva e imunológica, contribuindo para a digestão de fibras, síntese de vitaminas e proteção contra microrganismos patogênicos.
Não obstante, as pressões do mercado por maior competitividade forçam a utilização de ingredientes alternativos nas rações, aumentando a exposição a diversos fatores infecciosos e não infecciosos que podem afetar negativamente a integridade da mucosa intestinal. Essa luta por redução de custos, aliada à manutenção ou aumento da produtividade, ocorre concomitante à pressão pela retirada de antibióticos na produção de alimentos, culminando num desafio na manutenção da integridade intestinal. Diversos fatores infecciosos e não infecciosos podem afetar negativamente a integridade da mucosa intestinal: baixa qualidade de ingredientes e da água; falhas de manejo; problemas com biosseguridade; ambiente e outros. A falha em um ou mais destes fatores pode levar à disbiose — desequilíbrio da microbiota intestinal — com consequente diarreia, distúrbios hepáticos, enterites, queda na digestão e absorção de nutrientes. As disbioses são patologias frequentemente causadoras de alterações inflamatórias e gastroentéricas. Essas condições podem ser classificadas como infecciosas, sendo Clostridium perfringens, uma bactéria gram-positiva, o principal agente causador e de significativo potencial nocivo a produção. As perdas ocorrem principalmente pela piora da conversão alimentar, redução do ganho de peso e aumento na condenação de carcaças. A disbiose de origem não infecciosa pode ser representada por algum tipo de trauma físico devido à granulometria não adequada da ração, causando lesões em diferentes níveis, dependendo da intensidade da injúria.
Desenvolvimento precoce do TGI do pintinho e o impacto das gastroenterites nos primeiros dias de vida no desempenho produtivo ao longo de todo o ciclo produtivo
Por ser uma espécie precoce, as gastroenterites nos primeiros dias de vida do frango são especialmente preocupantes, pois o comprometimento inicial no desenvolvimento intestinal e a perda do potencial máximo de eficiência se refletirão ao longo de toda a vida do animal. Isso afeta negativamente a capacidade de realizar suas funções fisiológicas, resultando em perda de eficiência na digestão e/ou absorção ao longo de todo o ciclo produtivo. Ou seja, há redução nos índices zootécnicos, como o ganho de peso, e, em casos mais graves, aumento na mortalidade das aves e perda de rentabilidade. Intensos processos de maturação ocorrem no intestino dos pintos nas primeiras horas de vida devido à rápida transição da nutrição à base de gema de ovo para uma dieta mais complexa à base de grãos. Durante os primeiros dias após a eclosão, o intestino delgado amadurece rapidamente, desenvolvendo capacidades digestivas, absortivas e secretoras. Em condições saudáveis, a altura das vilosidades dobra nas primeiras 48 horas após a eclosão. O período de desenvolvimento abrange os primeiros 10 dias de vida. Este processo é caracterizado por mudanças morfológicas, celulares e moleculares no epitélio do ID, incluindo proliferação celular, alongamento de vilosidades e formação de criptas. As células funcionais desenvolvem-se ao longo das vilosidades e consistem principalmente de enterócitos, produzindo uma variedade de proteínas transportadoras de nutrientes e enzimas digestivas, além de células caliciformes secretoras de mucina.
Desempenho e saúde intestinal
Contudo, não apenas na ave jovem, mas em todo o seu ciclo de vida, um intestino desafiado prejudica significativamente o desempenho das aves. O aumento do gasto energético para combater infecções e reparar danos desvia energia do crescimento e produção. Danos à barreira intestinal permitem a translocação de patógenos e toxinas para a corrente sanguínea, causando infecções sistêmicas e respostas inflamatórias que afetam a saúde e o desempenho das aves. A função imunológica enfraquecida torna as aves mais suscetíveis a doenças, enquanto a disbiose favorece o crescimento de patógenos e agrava a saúde intestinal, levando a condições como diarreia. A inflamação crônica resultante prejudica ainda mais a função intestinal e o metabolismo. Portanto, a saúde intestinal é crucial para garantir o desempenho ideal das aves na avicultura.
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Saiba maisEstratégias nutricionais para promover saúde intestinal
Com a crescente demanda por estratégias capazes de promover a manutenção da saúde e integridade da morfologia intestinal, paralelamente a modular a função intestinal, alguns aditivos alimentares e minerais têm sido avaliados e usados. Por terem propriedades capazes de influenciar positivamente no desenvolvimento da mucosa intestinal, ajudam a manter a saúde intestinal, melhorando assim a digestão e absorção dos nutrientes. Neste contexto, há muitos produtos disponíveis no mercado, podendo ser usados via água ou ração. Dentre esses aditivos temos: probióticos, prebióticos, enzimas, óleos essenciais, ácidos orgânicos, aminoácidos, como a glutamina, e alguns minerais como o cromo.
Os probióticos introduzem microrganismos desejáveis no trato gastrintestinal com a função de melhorar o desempenho, a saúde geral e a produtividade, que geralmente são alcançadas afetando populações microbianas intestinais. Já os prebióticos são carboidratos indigestíveis por bactérias patogênicas e pelas aves, que promovem o crescimento e atividade das bactérias benéficas, favorecendo a microbiota intestinal, ou seja, melhorando a saúde intestinal. Os óleos essenciais podem ser bacteriostáticos ou imunoestimulantes, sendo uma mistura de compostos fitoquímicos, como carvacrol, timol e cinamaldeído, entre outros, que possuem propriedades antimicrobianas seletivas. Os ácidos orgânicos se consolidaram como estratégia eficaz para melhorar a saúde intestinal, enfrentar os desafios sanitários e promover o crescimento saudável dos animais. O ácido butírico, em particular, destaca-se por suas propriedades benéficas, incluindo a melhoria da morfometria intestinal e a inibição de bactérias patogênicas.
Considerações finais
A integridade e a saúde intestinal são pilares essenciais para o sucesso da produção avícola, influenciando diretamente a digestão, a absorção de nutrientes, a defesa imunológica e o desempenho produtivo das aves. A utilização de aditivos alimentares, como ácidos orgânicos e óleos essenciais, é uma estratégia eficaz para promover a saúde intestinal, combater patógenos e melhorar a eficiência alimentar. Ao fortalecer a barreira intestinal e estimular o crescimento de bactérias benéficas, esses aditivos contribuem para uma produção avícola mais saudável e produtiva. A adoção dessas estratégias nutricionais é crucial não apenas para o bem-estar das aves, mas também para a sustentabilidade e competitividade da indústria avícola, resultando em melhor desempenho, maior ganho de peso e eficiência alimentar, e redução da mortalidade. Assim, a manutenção da saúde intestinal, através de abordagens nutricionais inovadoras, torna-se indispensável para alcançar uma produção avícola eficiente e rentável.
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Referências
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Warley Alves
Analista de Desenvolvimento de Nutrição de Aves