Primeiramente, como começaram as operações da De Heus na Ásia e no Brasil?
Fluit: “Devo começar dizendo que todos os créditos vão para Rinus pelos primeiros passos do grupo na Ásia e no Brasil.”
Donkers: “De 2007 a 2008, eu estava viajando muito para o Vietnã – diversas vezes com Koen de Heus, que tinha acabado de assumir a empresa com seu irmão Co. Eu era desenvolvedor de negócios para o grupo na época e mencionei que o Vietnã não seria um mau lugar para começar os negócios.”
Fluit: “O Vietnã foi o primeiro país onde começamos como De Heus sem antes ter uma atividade de exportação através da Koudijs. O ponto de partida foi a aquisição da nossa primeira fábrica de rações em 2008. Em 2012, expandimos e passamos a desenvolver soluções nutricionais para a indústria Aqua - um marco importante para a De Heus. Em termos de outras iniciativas na cadeia de valor, investimos em fazendas genéticas e estamos em processo de criação de várias unidades de negócios.”
Donkers: “A ideia de expandir para o Brasil surgiu em 2012. O Brasil é um país enorme e, portanto, com grande potencial de crescimento. É uma superpotência agrícola que exporta para todo o mundo”.
Quais são as principais características dos seus mercados e como isso se traduz em suas atividades a nível local?
Donkers: “O mercado brasileiro é caracterizado por grandes players que administram toda a rede. Como resultado, todos os elos da cadeia de aves e suínos estão totalmente integrados. Por isso, não estabeleceremos outras iniciativas em nossa rede, como incubatórios ou matadouros, como fazemos na Ásia. Comparado aos demais países onde a De Heus atua, aqui no Brasil temos o mais amplo pacote de produção. Obviamente, produzimos premixes e rações, mas também produzimos suplementos minerais para gado de corte para garantir que possamos fazer melhor uso do pasto disponível, fornecendo bons aditivos associadamente”.
Fluit: “Na Ásia, percebemos que se realmente quisermos fazer a diferença ajudando os produtores independentes, precisamos ir além de rações de alta qualidade e suporte técnico. Os principais negócios genéticos são controlados por grandes empresas de rações, que nem sempre estão dispostas a fornecer seus pintinhos de um dia aos nossos clientes. Para cumprir nossa grande promessa de melhorar sua subsistência e renda, precisávamos equipá-los com genética de alta qualidade.”
Donkers: “A grande diferença entre nossos mercados é que os grandes players do Brasil são nossos clientes, enquanto na Ásia eles são mais como concorrentes”.
“A grande diferença entre nossos mercados é que os grandes players no Brasil são nossos clientes, enquanto na Ásia eles são mais como concorrentes”.
Rinus Donkers
Quais são os principais desafios em sustentabilidade na sua região e como vocês os transformam em combustível para impulsionarem o progresso?
Fluit: “Se você olhar para a Ásia, os maiores desafios enfrentados pelos produtores estão relacionados à produção de alimentos seguros e saudáveis em quantidade suficiente para nossa crescente população, ao mesmo tempo em que se reduz o uso de antibióticos. Outro grande problema é a disponibilidade de água potável para a pecuária. Há muita intrusão de água salgada no Delta do Rio Mekong, no Vietnã. Como os produtores dependem das águas do Mekong para alimentar seus animais, você pode imaginar o quanto isso muda drasticamente as condições de vida dos criadores de porcos e aves e afeta a qualidade do produto e os lucros das fazendas. Apoiamos nossos produtores na mudança para a criação de camarões - para a qual a água salobra é perfeita.”
Donkers: “Os principais desafios enfrentados pelos produtores brasileiros são a redução de antibióticos, o uso eficiente da terra e a preservação da floresta tropical. Eles têm o potencial de produzir uma quantidade significativa de alimentos para a crescente população mundial, incluindo os 4 a 5 bilhões de habitantes do Sudeste Asiático que você mencionou. Se os produtores puderem aproveitar melhor as matérias-primas que seus rebanhos convertem em proteínas animais, eles serão ser capazes de produzir o dobro, com a mesma quantidade de terra que usam atualmente. É aí que vejo as maiores oportunidades para De Heus oferecer suporte.
Quando se trata de legislação sobre desmatamento, o Brasil já é o mais rígido do mundo. Sempre que alguém planta soja, milho ou outras safras, 20% de cada hectare deve ser florestado ou reflorestado. Para os produtores mais próximos da Amazônia, as obrigações de florestar ou reflorestar aumentam em até 80%. Como De Heus, contribuímos para a conservação da floresta tropical patrocinando a Fundação Black Jaguar, cujo objetivo é plantar 1,7 bilhão de árvores nativas para restaurar o Corredor de Biodiversidade do Araguaia. Além disso, eles oferecem aos produtores conhecimento e apoio para que eles também possam plantar árvores, ajudando a aumentar a produtividade da produção de carne no restante de suas terras. Uma parceria favorável para ambas as partes em nossa opinião.”
Se você olhar para a Ásia, os maiores desafios enfrentados pelos agricultores estão relacionados à produção de alimentos seguros e saudáveis em quantidade suficiente para nossa crescente população, ao mesmo tempo em que se reduz o uso de antibióticos. Outro grande problema é a disponibilidade de água potável para a pecuária.
Gabor Fluit
Ambos mencionaram a redução dos antibióticos. Na Europa, o uso preventivo de antibióticos na pecuária já está proibido. Existem também regras restritas sobre o uso curativo de antibióticos no caso de doenças animais. Vocês utilizam esse conhecimento e experiência existentes para estimular o progresso no Brasil e na Ásia?
Fluit: “Definitivamente! As percepções e experiências P&D de outras unidades de negócios são o que, em minha opinião, diferenciam a De Heus das demais empresas. Na Ásia, nossa abordagem com relação à redução de antibióticos é dupla. Em primeiro lugar, tentamos convencer os produtores de que existem boas alternativas, igualmente boas e eficazes em termos de custos. O compartilhamento de dados de fazendas em outros países desempenha um papel importante nisso.
Além disso, apelamos aos legisladores nacionais para que se envolvam. Na Ásia, a importância da redução dos antibióticos está se tornando cada vez mais aparente, visto que uma grande parte da população está desenvolvendo resistência a certos tipos de antibióticos. Este é um dos principais problemas de saúde que podem ser observados em muitos países asiáticos. Nos últimos 3 anos, convidamos os Ministros da Agricultura do Vietnã e Mianmar para visitar a Holanda e aprender mais sobre nossa abordagem para a redução de antibióticos em toda a sociedade. Este é um processo de longo prazo que se vincula a todo o sistema de saúde - o setor pecuário só pode oferecer parte da solução. Os holandeses descobriram isso anos atrás.”
Donkers: “Concordo, a De Heus pode dar o exemplo comunicando sucessos de outras partes do mundo aos nossos mercados locais. Embora muitos tipos de antibióticos já tenham sido proibidos e antibióticos preventivos não sejam mais usados, o uso ainda é permitido no Brasil. Felizmente, cada vez mais empresas estão tomando a iniciativa de tentar reduzir o uso de antibióticos por conta própria. Algumas empresas maiores conseguiram uma rede sem antibióticos, enquanto alguns dos supermercados de ponta até estocam produtos sem antibióticos. Entre nossos clientes, também notamos algumas melhorias interessantes. Por exemplo, os produtores que começaram a usar nossa ração para leitões agora usam 12% menos antibióticos.”
Como a Ásia e o Brasil podem trabalhar juntas na solução de desafios globais e locais?
Fluit: “Há uma grande interdependência entre nossos países. Não podemos alimentar a população da Ásia sem o Brasil, o maior exportador líquido de proteínas e grãos do mundo. Por outro lado, o crescimento da economia brasileira depende muito do crescimento econômico da Ásia. Brasil de um lado e Ásia do outro. Se tornarmos nossa cadeia de suprimentos no Sudeste Asiático mais sustentável, poderemos ajudar a tornar a produção de soja no Brasil mais sustentável também. Podemos gerar um impacto enorme, porque temos empresas nos dois lados do mundo.”
Donkers: “Precisamos reforçar a importância do que chamamos de Responsible Feeding. Devemos ajudar uns aos outros regional e globalmente para dar um bom exemplo. Estou convencido de que soluções criadas em outras unidades de negócio também podem ser implementadas aqui.”