Modelagem, inteligência artificial e big data são o futuro da suinocultura, defende médico-veterinário

10 janeiro 2024
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7 minutos

Profissional enfatiza durante o Pork Meet Rio Verde que estes temas ainda são novos para uma grande parcela dos produtores, mas que auxiliarão muito os sistemas de produção.

Com uma abordagem focada em tecnologia, o Pork Meet Rio Verde, promovido no dia 28 de setembro, em Rio Verde/GO, pela Agigo, contou com a palestra “Aos suinocultores, o futuro! Uma abordagem sobre modelagem, inteligência artificial e big data”, ministrada pelo médico-veterinário e mestre em Ciência Animal, Marcino Pereira. O profissional apresentou um panorama sobre como as novas tecnologias podem agregar valor ao setor, trazendo apontamentos sobre o futuro e enaltecendo a importância da modernização das ferramentas na era da indústria 4.0.

De forma simples, ele explicou que estes três termos estão interligados, pois a modelagem matemática permite a simulação e previsão de resultados com base em dados passados e condições variáveis, enquanto a IA aprimora a capacidade de análise e tomada de decisões, identificando padrões e otimizando processos. Estes dois elementos se beneficiam do big data, que serve como base para a coleta e armazenamento de uma grande quantidade de informações valiosas que, por sua vez, alimentam a modelagem e o aprendizado da IA, promovendo a evolução e a inovação contínuas.

“Mas a pergunta que eu quero responder é o que isso tem a ver com a suinocultura? Minha resposta é simples, em um futuro próximo vamos utilizar estas ferramentas para conseguir modelar o acúmulo de informação de uma forma consistente e tratar esta informação para tomada de decisão do dia a dia da granja”, observa Marcino.

 
Modelagem matemática
 

 

Pereira explicou que a modelagem matemática envolve simulações de casos reais a fim de prever o resultado de algo no futuro. “De forma prática, podemos usar a modelagem para prever um resultado próximo, como peso e a conversão alimentar de um suíno. A modelagem pode trazer mais assertividade para o trabalho dos técnicos, extensionistas e produtores. Desta maneira, a modelagem possibilita a produção de um leitão mais tech”, pontua.

O profissional relembra que a história da modelagem matemática mostra que ela já é estudada há mais de trinta anos na produção de proteína animal, mas que ela não era utilizada porque não era eficaz, já que não existiam sistemas que possuíam a capacidade de alcançar o objetivo que havia sido modelado. “A prática do campo não trazia a modelagem que você havia previsto, porque possuem muitas variáveis. Hoje a história é diferente, pois os sistemas evoluíram e o acompanhamento é preciso. Por conta disso, cada vez mais podemos confiar nas modelagens que são feitas no campo, porque com o auxílio de softwares de gestão, elas auxiliam na administração correta da granja”, reforça.

 
Modelagem creche

O médico-veterinário disse que o setor da creche é um dos mais difíceis de se fazer a modelagem matemática porque a creche herda muitos efeitos de erros da maternidade, o que dificulta a modelagem do animal. “Durante o período de adaptação na creche, cerca de 15 a 20 dias, podemos ter muitos efeitos rebotes de como foi a vivência do suíno na maternidade. Desta forma, esses efeitos podem contribuir para que os animais não consumam os ingredientes necessários ou não se adaptem de forma correta. Isto pode ocasionar um erro maior do que eu consigo predizer, o que não favorece a modelagem”, explica.

 
Modelagem na terminação 

De acordo com ele, é na terminação que a modelagem matemática pode ser melhor aproveitada e isso ocorre por dois motivos. O primeiro é que o animal tem efeitos externos muito menores e o segundo é que ele precisa de água e ração. “Neste ciclo ele não tem outras variáveis, desta forma, a modelagem consegue identificar se ele teve algum problema no caminho e dizer o que foi que aconteceu, para que o produtor consiga corrigir este problema, para que no final ele possa entregar um leitão sadio para o abate”, afirma.

 
Modelagem da reprodução

O ciclo da reprodução também é bastante complexo, porque é preciso contar com o desenvolvimento da fêmea, o crescimento do feto, com o líquido amniótico, a recuperação da fêmea da última lactação, bem como é necessário contabilizar a produção de leite que ela terá, juntamente com a formação da glândula mamária. “Por conta de todos estes processos, a modelagem pode ser feita, mas ela vai ficando cada vez mais complexa nesta etapa”, pontua.

 
Big Data

Marcino descreveu o big data como um grande banco de dados, que armazena muitas informações importantes e que são pertinentes para a resolução de desafios que estão presentes no dia a dia da granja, sendo que ele possibilita também velocidade, volume e variedade de informações. “O big data oferece a capacidade de compilar e armazenar informações significativas, o que possibilita mais eficiência na tomada de decisões na granja”, destaca.

Ele afirma que os centros acadêmicos estão utilizando o big data e resgatando um grande acúmulo de informação geradas para replicar e melhorar os problemas das granjas. “Hoje observamos que as teorias estão sendo aplicadas e sendo eficientes na rotina diária das granjas”, observou o profissional, acrescentando que o big data precisa ser constituído de dados que possam ser traduzidos em conhecimento e arquivados de forma organizada para serem acessados com facilidade.

 
Inteligência artificial 

Com relação à IA, Marcino pontuou que ela é a responsável por auxiliar o entendimento dos dados que são coletados pelos sistemas, pois ela concentra as informações e possibilita o entendimento dos dados. “Na prática, a IA permite também a automação da tomada de decisão com base em dados coletados. Se a treinarmos de forma eficiente, ela pode ajudar a identificar problemas e fornecer sugestões para melhorias. Ela consegue apontar quais são os nutrientes que podem nos ajudar a ter melhores resultados, tornando o processo mais eficiente”, exemplifica.

O profissional também discorreu sobre a evolução destas ferramentas na suinocultura e como elas podem ser aplicadas em diferentes estágios da produção, da reprodução à terminação. “À medida que a genética dos suínos evolui, é essencial manter-se atualizado e aproveitar as novas ferramentas para melhorar a produção. Temos granjas muito grandes, onde é inviável manipular os dados de forma manual, nestes casos a IA pode ser uma grande aliada”, sugere.

 
Redução da mortalidade

A utilização de IA, modelagem matemática e big data também foi associada à redução da mortalidade na produção de suínos e à otimização da tomada de decisões. Pereira enfatizou que, em um futuro próximo, estas tecnologias devem ser fundamentais na maneira como as granjas serão construídas e gerenciadas, permitindo a coleta e a análise mais eficaz de dados para melhorar os resultados da suinocultura.

De acordo com ele, a suinocultura está se adaptando às novas tecnologias e a integração entre IA, big data e modelagem matemática promete aumentar a eficiência, reduzir custos e melhorar a produtividade, criando um futuro mais promissor para o setor. “Um exemplo prático disso é que hoje é possível saber e definir, em um curto tempo de dez segundos, se já houver a projeção da modelagem matemática de produção, qual é o melhor ponto entre a comercialização frente à realidade do preço da ração naquele momento e o custo do cevado de venda daquela semana. Desta forma, é preciso acompanhar os números e modelar a granja para que se possa ter uma resultado cada vez melhor”, menciona.

 
Possibilidades

O profissional apresentou algumas ferramentas e aplicativos que podem ser utilizados na produção de suínos, como as câmeras inteligentes – smartcam, que têm a função de passar por cima das baias, calculando o peso dos cevados diariamente e armazenado os dados em softwares e o sound talks, que é um aplicativo que identifica o aspecto sanitário da granja, indicando o nível de pressão de infecção na parte respiratória dos animais, entre outros.

 
Maior desafio 

Marcino também enalteceu que o objetivo de todo produtor é manter o nível mais alto de produtividade na granja, salientando que existem ações que podem auxiliar na melhoria da conversão alimentar, bem como na redução da mortalidade. “A IA pode ser uma grande aliada, mas ela não vai trabalhar sozinha. Precisamos de pessoas para gerenciá-la”, aponta.

E qual seria o grande próximo passo da suinocultura? Segundo ele, é a possibilidade de valer-se das informações e tecnologias disponíveis e tomar a melhor decisão de forma rápida e eficiente. “Acredito que, em um futuro muito próximo, isso vai moldar como a gente constrói as nossas granjas, porque quanto mais informações relevantes eu tiver da minha propriedade melhor serão as minhas condições de tomada de decisões. Com certeza teremos melhores resultados”, aponta.