Usando a genética para melhorar a produção de peixes para os piscicultores da Indonésia
A Indonésia é um dos principais produtores mundiais de peixes e frutos do mar de cultivo. Para consolidar esta posição, o governo pretende aumentar a aquacultura sustentável nos próximos anos em colaboração com vários parceiros públicos e privados. Em 2019, a De Heus foi uma das cinco empresas holandesas que se associaram ao FishTechIndonesia, um projeto liderado pela Larive International, que promoveu sistemas de produção de aquacultura sustentáveis e inovadores e as melhores práticas localmente.
Construindo sobre este sucesso, a De Heus Indonésia e a Larive International formaram uma parceria em um novo projeto que se concentra na melhoria da genética da tilápia para que os piscicultores locais possam obter melhores resultados técnicos. Bettina Cavenagh é Diretora da Clarity Research, parceira local da Larive na Indonésia. Ela e Budi Mulia, Gerente de Suporte Técnico de Peixes da De Heus Indonésia, explicam como estão introduzindo uma nova raça de tilápia que é boa para os piscicultores, para a De Heus e para o meio ambiente.
Por que uma parceria como essa é tão importante para a aquacultura na Indonésia?
Bettina: "A Indonésia produz cerca de 6 bilhões de alevinos de tilápia a cada ano, mas nem todos eles se tornam adultos. Há uma alta taxa de mortalidade devido ao acasalamento entre parentes e outros fatores, por isso os piscicultores não obtêm altos retornos. Ao introduzirmos melhores genes, pretendemos aumentar as taxas de sobrevivência e os lucros dos piscicultores."
Budi: "As tilápias machos crescem mais rápido e são cerca de 40% a 50% maiores do que as fêmeas. É por isso que os hormônios são geralmente usados para transformar as tilápias fêmeas em machos, mas os hormônios também enfraquecem o sistema imunológico dos peixes, contribuindo para uma maior mortalidade. Além disso, se os peixes tratados com hormônios escaparem para o meio ambiente natural, eles perturbam os ecossistemas locais. O uso excessivo de hormônios também pode prejudicar a saúde humana, principalmente a dos funcionários das fazendas de criação de peixes. Os hormônios são proibidos na produção de peixes na União Europeia e outros países estão seguindo o exemplo devido às preocupações dos consumidores. A De Heus está participando deste projeto, pois deseja introduzir uma nova linhagem de tilápias que produzam um número maior de machos sem o uso de hormônios."
Como este projeto se desenvolveu?
Bettina: "A Til-Aqua, uma empresa nos Países Baixos, cria tilápias YY que, quando cruzadas com uma fêmea normal, produzem tilápias machos naturais (NMT). Ela é uma das poucas empresas no mundo que fazem isso. No final do projeto FishTechIndonesia em 2020, a Covid-19 atingiu a região e a Til-Aqua precisou reavaliar sua estratégia de negócios, então eles nos ofereceram o estoque de avôs de tilápias YY. Na piscicultura de tilápia, geralmente você só pode comprar o estoque parental que você tem que recomprar semestralmente, mas você não precisa fazer isso com o estoque de avôs. A oferta da Til-Aqua foi uma oportunidade única para nos tornarmos autossuficientes com esta linhagem inovadora de tilápias e a De Heus Indonésia entrou como nossa parceira."
Budi: "A De Heus é uma das maiores produtoras de ração para peixes de água doce da Indonésia, por isso temos um acesso facilitado aos piscicultores. Junto à parceira Larive, construímos um viveiro para esta nova linhagem de tilápias utilizando um sistema de aquacultura de recirculação, além de outras tecnologias inovadoras que introduzimos durante o FishTechIndonesia. A Til-Aqua está nos dando treinamento para garantir que usemos as melhores práticas internacionais. Aqui, nós criamos esta linhagem melhorada de tilápias e depois os alevinos são vendidos para os piscicultores."
Por que a tecnologia genética é a resposta aos desafios da piscicultura na Indonésia?
As NMTs (Naturally Male Tilapia) - em português, "Tilápia Naturalmente Macho", o significa que não requerem a administração de hormônios para serem convertidas em machos, como é o caso da maioria das tilápias criadas em cativeiro - são 99% naturalmente machos e têm uma taxa de sobrevivência muito maior devido a um sistema imunológico mais forte. Como o processo NMT não usa hormônios, não há risco para o meio ambiente ou para a saúde humana e as NMTs são muito melhores para os piscicultores.
Budi: "Esses alevinos NMT também são mais uniformes em tamanho do que os peixes tratados com hormônios. Em um viveiro de tilápia, normalmente você espera até que os alevinos flutuem na superfície do tanque e os colete após cerca de 18 dias, independentemente da idade deles. Com os alevinos NMT, podemos coletar os ovos a cada 10 dias, classificá-los em quatro grupos com base no estágio de desenvolvimento e garantir que sejam uniformes em tamanho. Isso também beneficia os piscicultores. Não é possível fazer isso com peixes tratados com hormônios."
“Os piscicultores alcançam a produtividade ideal para que possam expandir seus negócios.”
Como a parceria beneficia a De Heus Indonésia, a Larive e os piscicultores locais?
Budi: "Quando os piscicultores se saem bem, a De Heus Indonésia também se sai bem. Com este projeto, estamos fornecendo aos piscicultores alevinos NMT de alta qualidade que desempenham bem com a nossa ração. Os piscicultores alcançam a produtividade ideal para que possam expandir seus negócios. Além disso, estamos ajudando a proteger o meio ambiente e garantindo o sucesso do setor de aquacultura na Indonésia. É uma simbiose entre os produtores e a nossa fábrica de ração."
Bettina: "A De Heus nos fornece ração de alta proteína que não contém farelo de soja, que é mais comum na Europa. Nenhuma outra empresa na Indonésia produz essa ração personalizada e tem sido uma grande contribuição para o sucesso do projeto. Em geral, é comum o uso do farelo de seoja na ração aquática porque é uma opção econômica, mas este subproduto contém fitoestrógeno, que pode converter alevinos machos em fêmeas durante as duas primeiras semanas de desenvolvimento, portanto, a De Heus Indonésia também produz ração aquática farelo de soja, o que contribui para o alcance de melhores resultados."
Quais são os resultados do projeto até agora?
Bettina: "Ainda estamos na fase inicial, mas demonstramos cientificamente que os alevinos que vendemos são 99% machos produzidos sem hormônios. Estamos atualmente no processo de reprodução da nossa próxima geração de fêmeas de tilápia YY e saberemos em três meses se obtivemos sucesso. Agora temos tudo em ordem para iniciar a produção comercial em larga escala."
Budi: "Estamos introduzindo os alevinos NMT nas fazendas de criação de peixes e monitorando o desempenho. É muito cedo para dizer se obtivemos sucesso. Pode levar mais quatro meses. A longo prazo, queremos atender aos requisitos de nossos clientes, garantindo alevinos de tilápia saudáveis e produzidos de modo sustentável."
Como a parceria beneficia as comunidades locais na Indonésia?
Bettina: "Nosso viveiro fica em Majalengka, uma área rural, por isso a comunidade local está envolvida desde o início. O viveiro foi construído por trabalhadores locais e não por uma grande empresa de construção. Há também uma fazenda de peixes comunitária nas proximidades, por isso também queremos treinar pessoas locais para que possam realizar testes de crescimento e alimentação em essas instalações. Dessa forma, elas podem ser remuneradas e receber treinamento profissional."
Quais são suas ambições futuras para o projeto?
Bettina: "O custo de transportar alevinos é alto, então nosso primeiro passo é expandir para o Norte de Sumatra, que é o maior mercado de tilápia na Indonésia. Atualmente, grandes volumes de tilápia são cultivados no Lago Toba, mas a água está se tornando poluída como resultado. O governo também quer tornar o lago um ponto turístico. Por isso, planejamos instalar um viveiro-satélite na região e atrair os piscicultores para longe deste lago com técnicas mais sustentáveis usando a tecnologia RAS e NMT. Depois disso, dependendo das condições do mercado, queremos nos mudar para Sulawesi e Kalimantan, onde podemos instalar viveiros-satélites mais próximos dos mercados locais."
Budi: "Primeiro, temos que fazer isso dar certo na Indonésia, mas se formos bem-sucedidos aqui, poderemos exportar a tecnologia NMT para outros países onde atuamos. No início deste ano, tive uma reunião no Vietnã com a equipe da De Heus Ásia. Nossas unidades de negócios em Mianmar e Vietnã estão interessadas no sistema RAS e NMT. Eles querem testar os alevinos NMT e compará-los a alevinos locais e, se os resultados forem positivos, queremos analisar a viabilidade de exportação do estoque parental NMT."