Produção de frangos de corte: aspectos nutricionais relevantes em ambientes de elevadas temperaturas
O Brasil é um país de clima bastante diversificado devido a fatores variados, como sua grande extensão territorial, seu relevo e a dinâmica das massas de ar. A maior parte do território brasileiro encontra-se nas áreas de baixas latitudes, entre o Equador e o Trópico de Capricórnio. Por essa razão, predominam os climas quentes e úmidos.
Por Renata Marangoni Soares, Nutricionista de Aves
Com relação à umidade o clima apresenta algumas diferenças de uma área para outra, desde o superúmido – quando a quantidade de chuva é superior a 2.500 milímetros anuais, até o semiárido – quando a quantidade de chuva se situa entre 300 e 600 milímetros anuais.
Na produção de frangos de corte é notório que a temperatura e umidade relativa do ar podem interferir no consumo de ração das aves. O menor consumo de ração observado em frangos de corte mantidos em estresse de calor é uma tenta¬tiva de reduzir a produção de calor metabólico. Essa redução do consumo de ração é acompanhada de piora no ganho de peso e na conversão alimentar, conforme OLIVEIRA NETO et al. (2000).
As aves, sendo animais homeotermos, dispõem de um centro termorregulador, localizado no hipotálamo, capaz de controlar a temperatura corporal através de mecanismos fisiológicos e respostas comportamentais, mediante à produção e liberação de calor, determinando, assim, a manutenção da temperatura corporal normal (MACARI et al., 1994).
Aliadas às boas práticas de manejo e ambiência previamente definidas e bem implementadas, alguns aspectos nutricionais podem auxiliar na busca da manutenção de bons resultados zootécnicos em aves submetidas a estresse calórico.
O estresse calórico proporciona uma alteração no equilíbrio ácido-base das aves, devido ao desenvolvimento de alcalose respiratória. Para reduzir os danos causados pelo estresse calórico, o uso de sais é uma alternativa bastante utilizada na avicultura comercial. Entre os principais sais utilizados destacam-se o carbonato de potássio (K2CO3) e o bicarbonato de sódio (NaHCO3).
O balanço eletrolítico (BE) é definido como sendo a diferença entre a concentração total de ânions e cátions da dieta. O equilíbrio ácido-básico pode influenciar o crescimento, o apetite, o desenvolvimento ósseo, a resposta ao estresse térmico e o metabolismo de certos nutrientes como aminoácidos, minerais e vitaminas (Patience, 1990). Dessa forma, é importante observar as proporções de sódio, cloro e potássio nas formulações das aves, sempre respeitando as exigências nutricionais do animal. O BE de 250mEq/kg é utilizado como ótimo para as funções fisiológicas normais dos frangos de corte.
A densidade da dieta também pode ser usada como uma ferramenta nas formulações para contornar os efeitos do estresse térmico. Lembrando que em condições de estresse térmico, a ave reduzirá automaticamente a ingestão de ração, o que leva a uma menor ingestão de nutrientes, incluindo os aditivos que contribuem para a manutenção da integridade intestinal. Esta menor ingestão de nutrientes, combinada à diminuição da integridade intestinal, resulta em menor disponibilidade de nutrientes para o crescimento.
A inclusão de óleos e gorduras na dieta é uma forma de manter o aporte enérgico da dieta em momentos em que há diminuição do consumo devido ao calor. O efeito benéfico da adição de óleo nas rações de animais submetidos ao calor está associado a modificações na fisiologia gastrointestinal e ao menor incremento calórico (Just, 1982) verificado durante os processos de digestão, absorção e assimilação dos nutrientes das rações contendo maior teor de óleo.
Estudos comprovaram que excessos de proteína bruta na ração, podem aumentar o calor metabólico e reduzir o desempenho das aves, além de aumentar a excreção de nitrogênio (Aletor et al., 2000). Dessa forma, tem sido proposta a redução do teor proteico da ração e a suplementação com aminoácidos sintéticos para frangos de corte mantidos sob estresse por calor (Cheng et al., 1997).
O manejo da água de bebida também desempenha um papel de extrema importância para atenuar as perdas provocadas pelo estresse calórico, sendo que a quantidade de água ingerida aumenta à medida que se eleva a temperatura ambiente (MACARI et al., 2002).
Em síntese, precisamos nos atentar a práticas de manejo que promovam melhores trocas de calor com o meio, sempre em busca de melhores índices de produtividade de frangos de corte. Atenção a qualidade e disponibilidade de água, aumento aceitável nos níveis de energia e redução dos níveis de proteína, assim como a adição de eletrólitos na ração ou na água, são ferramentas que podem contribuir com a redução dos danos causados pelo estresse calórico e promover uma melhor qualidade do sistema de produção.
Referências:
ALETOR, V.A.; HAMID, I.I.; NIESS, E. et al. Low-protein amino acid-supplemented diets in broiler chickens: Effect on performance, carcass characteristics, whole body composition and efficiencies nutrient utilization. Journal Science Food Agriculture, v.80, p.547-554, 2000.
CHENG, T.K.; HAMRE, M.L.; COON, C.N. Responses of broilers to dietary protein levels and amino acid supplementation to low protein diets at various environmental temperatures. Journal of Applied Poultry Research, v.6, p.18-33, 1997.
JUST, A. The net energy value of balanced diets for growing pigs. Lvstckoc. Prod. Sci., 8:541-555, 1982
MACARI, M.; FURLAN, R.L.; GONZALES, E. Fisiologia aviária aplicada a frangos de corte. Jaboticabal : FUNEP/ UNESP, 1994. 246p.
MACARI M, FURLAN RL, GONZALES E. Fisiologia Aviária Aplicada a Frangos de Corte. Jaboticabal: FUNEP/UNESP. 2002. 375p
MONGIN, P. Electrolytes in nutrition: a review of basic principles and practical application in poultry and swine. In: ANNUAL MINESOTTA CONFERENCE, 3., 1980, Illinois. Proceedings... Illinois: IMC, 1980. p.1-15.
OLIVEIRA NETO AR, OLIVEIRA RFM, DONZELE JL, ROSTAGNO HS, FERREIRA RA, MAXIMIANO HC, GASPARINO E. Efeito da Temperatura Am¬biente sobre o Desempenho e Características de Carcaça de Frangos de Corte Alimentados com Dieta Controlada e Dois Níveis de Energia Meta¬bolizável. Rev. bras. zootec. 2000. 29(1):183-190.
PATIENCE, J. F. A review of the role of acid-base balance in amino acid nutrition. J. Anim. Sci., Savoy, v.68, p.398-408, 1990.
https://www.todamateria.com.br/climas-do-brasil/
Consulte nossa equipe técnica e conheça os serviços e produtos que a De Heus dispõe para melhorar a performance de sua produção.
About the author
Renata Soares Marangoni
Nutricionista de Aves