Influenza aviária: pontos de atenção e orientações importantes

Lidson Ramos Nery

Nutricionista de Aves

15 março 2023
-
6 minutos

Entre os grandes países produtores de carne de frango e ovos, o Brasil é o único país que não possui registro de surtos de influenza aviária – considerada uma doença exótica.

Por Lidson Ramos Nery, Nutricionista de Aves

 

A influenza aviária é uma doença de alta patogenicidade e alta letalidade que afeta o sistema neurológico e o aparelho respiratório das aves. Os sinais clínicos englobam desde tremores de cabeça até sinais clínicos respiratórios como espirros, corrimentos nasais e lacrimejamento, além de alta mortalidade das aves.

 

As aves migratórias, em especial as aves aquáticas, são de grande importância epidemiológica para a transmissão da influenza aviária. Vale ressaltar que nem todas as aves migratórias possuem o vírus. Não podemos estigmatizar as aves migratórias e devemos entender que este processo migratório é importante e dificilmente conseguiríamos contê-lo. Portanto, a prevenção e monitoramento são pontos-chave para evitar a propagação desta doença em território nacional.

 

Além de se tratar de uma doença grave, esta é de notificação obrigatória aos órgãos oficiais nacionais e internacionais de controle de saúde animal, podendo ocasionar barreiras sanitárias afetando a comercialização de produtos avícolas no mercado interno e externo. Desta forma e devido à sua gravidade, é importante entender sobre o assunto, visto que sua incidência pode ocasionar uma grave crise na cadeia avícola brasileira, com fortes impactos socioeconômicos.

 

A intensificação das orientações e ações preventivas no país ocorreram no momento em que alguns países vizinhos ao Brasil registraram surtos da doença após outubro de 2022.

 

Considerando que na maioria dos países a vacinação não é permitida, a biossegurança é a única ferramenta que temos para evitar que a doença entre em nossas granjas.

 

As principais ações preventivas que devem estar em pleno funcionamento são:

 

  • Não permitir a entrada de pessoas estranhas nas granjas;
  • Caso a visita de trabalho for inevitável, recomenda-se que os visitantes tomem banho e utilizem uniformes e calçados fornecidos pela granja, o que também se aplica aos próprios trabalhadores da granja.
  • A entrada de carros deve ser evitada, entretanto, todos os veículos que precisem adentrar a granja devem ser desinfectados com uso do arco sanitário;
  • Todos os formulários de registro de visitas devem ser obrigatoriamente e corretamente preenchidos;
  • É necessário realizar o fechamento dos galpões com o uso de telas para bloquear a entrada de pássaros silvestres;
  • Não manter contato com aves silvestres, bem como sugere-se a suspensão de criações de aves soltas nas imediações das granjas e/ou núcleos de produções;
  • Qualquer suspeita de contaminação deve ser comunicada imediatamente aos órgãos oficiais.

 

Quais são as situações em que se faz necessário comunicar os órgãos oficiais para uma investigação mais profunda?

 

  • Incidência de alta mortalidade no plantel (acima de 10% do plantel em 72 horas), sejam criações de produção, de subsistência ou ornamental;
  • Identificações de sinais clínicos e lesões compatíveis com a doença (sinais neurológicos, respiratórios e digestivos);
  • Rápida queda da produção de ovos, tanto na avicultura de postura quanto em reprodutoras, sendo ela superior a 10%;
  • Produção de ovos com má formação;
  • Algum indício laboratorial percebido durante o monitoramento de rotina das granjas.

 

Uma vez feita a notificação, os órgãos veterinários oficiais estaduais deverão realizar uma visita investigativa ao local informado em até 12 horas após a notificação. Feita uma avaliação criteriosa, o veterinário determinará se é um caso que deva ser investigado com coleta de amostras para avaliação laboratorial ou se trata-se apenas de um caso de mortalidade isolada por outros motivos. Vale salientar que somente os veterinários dos órgãos oficiais têm a prerrogativa de descartar a suspeita, não cabendo ao veterinário de atendimento privado fazer esta avaliação – está reservado a ele somente a obrigação de fazer a notificação aos órgãos oficiais.

 

Mesmo com todos estes cuidados, é necessário que o país tenha um plano de contingenciamento preparado e atualizado em caso de alguma notificação.

 

O atual plano de contingência adotado pelo MAPA prevê que havendo a confirmação de um resultado laboratorial positivo, deve ocorrer a interdição da propriedade com a eliminação das aves (sacrifício e descarte das carcaças de acordo com recomendações técnicas). Em um raio de 3 km da propriedade é criada a zona de proteção e em um raio de 3 a 10 km da propriedade é criada a zona de vigilância. Nestas duas zonas deverão ocorrer a interdição de movimentação e quando necessário, esta pode ser realizada somente com a autorização do órgão veterinário oficial. Nestas zonas também poderão ocorrer a coleta de amostras para avaliação laboratorial.

 

Especificamente na propriedade onde o foco foi notificado, ocorre a eliminação das aves e de todo o material orgânico. O plano de contingenciamento também prevê a limpeza e desinfecção da propriedade, bem como a implementação de aves sentinelas (para coleta de amostras e verificação da eficiência de desinfecção). Na zona de proteção é realizada a coleta de amostras em todas as propriedades – raio de 3 km do foco. A zona de proteção só é desfeita após a confirmação dos resultados negativos dos testes laboratoriais. Já com relação à zona de vigilância, todas as propriedades poderão ser visitadas para coletas de amostras, caso necessário.

 

Vale ressaltar que o plano de contingenciamento tem previsto todos os processos específicos, ou seja, como deve ser feito o descarte das carcaças, como deve ser feita a desinfecção da granja foco, quais são os desinfetantes aprovados pelo MAPA com ação comprovada contra o vírus, dentre outras determinações.

 

Este plano de contingência é constantemente revisado e atualizado em função de novas informações compartilhadas por outros países com casos confirmados de surtos por influenza aviária. Portanto, é fundamental que a iniciativa privada tenha conhecimento deste plano de contingenciamento para que os profissionais correlacionados estejam preparados e com o devido conhecimento para atuação neste momento que demanda muita atenção de todos para que sejam minimizados os riscos da entrada e proliferação do vírus no Brasil.

 

Em especial, a De Heus – multinacional presente em mais de 20 países e com profissionais altamente qualificados – poderá ajudar os seus clientes por meio de aconselhamento técnico e demais orientações necessárias sobre todos os pontos de atenção com relação à biosseguridade neste momento tão importante para a avicultura nacional.

 

Abaixo seguem algumas sugestões de leitura que podem te ajudar a se aprofundar mais sobre este tema:

 

- PROGRAMA NACIONAL DE SANIDADE DE AVÍCOLA:

https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/sanidade-animal-e-vegetal/saude-animal/programas-de-saude-animal/pnsa

https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/sanidade-animal-e-vegetal/saude-animal/programas-de-saude-animal/pnsa/influenza-aviaria

- NOTA TÉCNICA SOBRE INFLUENZA AVIÁRIA/NOVEMBRO 2022:

https://www.embrapa.br/documents/1355242/0/Nota+T%C3%A9cnica+-+Influenza+Avi%C3%A1ria+-+2022.pdf/2a426e88-1c54-27f5-bce6-5900797ae03e

- PLANO DE CONTINGÊNCIA NO BRASIL

https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/sanidade-animal-e-vegetal/saude-animal/programas-de-saude-animal/pnsa/imagens/PlanodeContingenciaIAe

- CAMPANHA DA ABPA ALERTA SOBRE CUIDADOS PARA PREVENÇÃO À INFLUENZA AVIÁRIA: https://www.youtube.com/watch?v=rnOpEqV9-AU

- INFORMAÇÃO BÁSICA SOBRE INFLUENZA AVIÁRIA PARA PRODUTORES:

https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/sanidade-animal-e-vegetal/saude-animal/arquivos-das-publicacoes-de-saude-animal/folder_produtor-v_-17_07_15.pdf/@@download/file/folder_produtor-v_-17_07_15.pdf

- INFORMAÇÃO BÁSICA SOBRE INFLUENZA AVIÁRIA PARA VIAJANTES:

https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/sanidade-animal-e-vegetal/saude-animal/arquivos-das-publicacoes-de-saude-animal/folder_viajentes-v1.pdf/@@download/file/folder_viajentes-v1.pdf

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