Restaurar a biodiversidade - uma história de esperança e ação entre a Black Jaguar Foundation e os produtores

Em nenhum lugar do mundo os desafios da crescente população mundial são tão visíveis quanto no Brasil hoje. Nas últimas décadas, o aumento do desmatamento tem sido crescente no tocante a atividades como a agricultura, a pecuária, a extração de madeira, a mineração e a expansão urbana, o que gera efeitos prejudiciais às pessoas, à natureza e ao planeta. “Já vimos estes efeitos acontecerem em outras partes do mundo, como o desequilíbrio climático, a erosão do solo, a perda de biodiversidade e habitats naturais, assim como o declínio da qualidade de vida das próprias comunidades locais.”

Quando os líderes mundiais falam sobre a preservação das florestas tropicais no Brasil, seu foco principal é o armazenamento de carbono e preservação da biodiversidade. Para os produtores locais e brasileiros há algo mais em jogo, diz Ben Valks. “A água está desaparecendo.”

Após seu retorno, Valks abordou uma equipe de cientistas brasileiros que havia trabalhado no desenvolvimento do 'Corredor de Biodiversidade do Araguaia' - um corredor de natureza de 2.600 km situado ao longo das margens do rio Araguaia, que conecta a natureza intacta presente entre a Floresta Amazônica e o Cerrado. "Ele serve como uma artéria vital para milhares de espécies de árvores e animais que vivem nestes dois ecossistemas”, diz Valks.

Valks percebeu que poderia usar sua experiência em negócios internacionais para criar um volante para a recuperação de todas as áreas degradadas da zona do Corredor de Biodiversidade do Araguaia. Juntamente com uma equipe dedicada de profissionais, ele assumiria um dos maiores projetos de reflorestamento de todos os tempos para restaurar a biodiversidade, preservando ricos ecossistemas brasileiros e criando impacto econômico e social positivo locamente e mundialmente.

Junto com sua equipe, ele desenvolveu uma estratégia de longo prazo para implementar o processo de restauração ecológica, buscou patrocinadores internacionais para financiamento e reuniu parceiros técnicos e uma equipe local para realizar o reflorestamento. “Nunca conheci a onça-preta, mas decidi nomear nossa organização em sua homenagem, como um símbolo do que está em jogo.”

"A Floresta Amazônica está chegando ao seu ponto crítico de destruição. Na Europa e na América do Norte, praticamente todas as florestas são replantadas. O Brasil é um dos únicos países do mundo que tem sua natureza protegida por lei. Um fato que deve fazer com que a comunidade internacional reflita muito. Desde 1965, o Código Florestal Brasileiro exige que os proprietários de terras protejam todas as áreas próximas a fontes de água e reservem entre 20 e 80% de suas terras para vegetação nativa e sua restauração. Quão incrível é isso? A legislação no Brasil é incrivelmente complexa e muda constantemente. O Código Florestal, no entanto, sempre se manteve”, afirma Valks.

Valks continua: "É aí que entra a Black Jaguar Foundation. Restaurar a vegetação nativa da terra é caro e muito complexo. E com a crescente demanda global por proteína animal e alimentos, a conformidade dos produtores com o Código Florestal está sob pressão. Assumimos como missão oferecer apoio técnico e financeiro para que parte de suas terras voltem ao estado original e cumpram a legislação. Juntamente com os produtores brasileiros, acreditamos que podemos fazer a diferença.”

Conseguir o primeiro grupo de produtores a bordo não foi tão fácil. Um momento crucial para o fomento desta parceria entre o projeto e os produtores, foi uma entrevista para a National Geographic em 2018. Valks convidou um dos primeiros produtores parceiros para compartilhar sua visão sobre a situação na Amazônia. “Queríamos mostrar ao mundo que os produtores são peças-chave na restauração da biodiversidade brasileira, na verdade heróis. As coisas começaram a mudar depois disso. Os produtores no Brasil começaram a perceber que cumprimos o que prometemos e nos veem como seus parceiros de longo prazo.”

Trabalhando lado a lado, a Black Jaguar Foundation assumiu a responsabilidade pela implementação do reflorestamento de toda a área do Corredor. Em conjunto com o World Resources Institute Brazil, o primeiro passo em 2018 foi mapear toda a área (10,4 milhões de hectares), identificar todos os seus proprietários (mais de 13.000 produtores) e seu uso da terra, determinando quais partes da zona do Corredor precisavam ser ser ecologicamente restauradas. “Esperamos restaurar mais de 1 milhão de hectares com o plantio de mais de 1,7 bilhão de árvores nativas. Será um dos maiores projetos de reflorestamento do Brasil!”

“Iniciamos a restauração ecológica no meio do corredor, zona de transição entre a Amazônia e o Cerrado, onde os proprietários precisam reservar 35% de suas propriedades para a natureza. “Muitos produtores já recuperaram até 30%. Nós os ajudamos a cumprir os últimos 5%.” Nossos engenheiros florestais locais pesquisam as melhores técnicas de restauração de árvores nativas e trabalham para identificar quais espécies de árvores nativas pertencem ao Cerrado. Juntamente com os proprietários, elaboramos planos de reflorestamento adaptados ao seu pedaço de terra e incorporamos modelos sustentáveis ​​de silvicultura e agrossilvicultura", explica Valks.

Enquanto a maioria de seus colegas brasileiros trabalha no local, Valks e sua equipe também estão trabalhando no financiamento. Uma pré-condição absoluta para cada novo patrocínio são os valores compartilhados e o cumprimento da declaração de missão da Black Jaguar Foundation. “Uma incompatibilidade é prejudicial à nossa credibilidade”, diz Valks. É por isso que Valks busca parceiros e não apenas patrocinadores - indivíduos e organizações que assumam o compromisso de preservar o nosso meio ambiente para as gerações futuras.

Em 2020, ele entrou em contato com Rinus Donkers, Diretor da América Latina e Presidente da De Heus Brasil, que estava interessado em se tornar um patrocinador oficial. “Logo percebi que a De Heus compartilha os mesmos valores da Black Jaguar Foundation. Eles impulsionam o desenvolvimento sustentável, agem para preservar o planeta para as gerações futuras, cumprem suas promessas e estão comprometidos em agregar valor às comunidades locais.”

E assim como a Black Jaguar Foundation, a De Heus trabalha em conjunto com produtores para possibilitar uma produção sustentável de alimentos, preocupando-se com a causa da restauração da biodiversidade. “A demanda global por alimentos continua crescendo. Sugerir que não precisamos de terra para produizir alimentos seria irreal, mas os produtores devem produzir com eficiência na mesma área de terra ou em uma menor área para tornar isso possível. A De Heus os ajuda a conseguir isso, oferecendo-lhes suporte em gestão, manejo, nutrição, sanidade e aconselhamento técnico. Juntos, estamos ajudando produtores no Brasil a restaurarem suas terras, reduzindo seu nível de degradação.”

Em agosto de 2021, Co e Koen de Heus decidiram estender o patrocínio original à De Heus Brasil ao apoio de longo prazo da De Heus Global, que contribui não apenas no plantio de árvores, mas na realização de toda a missão da Black Jaguar Foundation. Valks quer que o mundo saiba que o meio ambiente e a agricultura/pecuária podem andar juntos. “Esta parceria pode desempenhar um papel importante para alcançarmos isso.”