Dinâmica óssea em poedeiras

10 agosto 2016
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2 minutos

É preciso atenção às demandas nutricionais pelos minerais responsáveis pela composição da matriz na qual o cálcio irá se depositar na casca dos ovos

Grandes alterações ocorrem na biologia óssea da Poedeira quando atinge sua maturidade sexual, por volta de 15 a 16 semanas. A função dos oesteoblastos (células responsáveis pela formação óssea estrutural) é alterada para formação de um novo tipo ósseo, chamado osso medular, encontrado em ossos longos, como os das pernas. Este tipo ósseo é um reservatório lábil de cálcio, utilizado como fonte secundária de cálcio para  formação da casca do ovo em períodos de privação de alimentos (Whitehead, 2004).

De acordo com Fleming (1998), o osso medular é estrategicamente mais fraco que o osso estrutural por ser uma formação óssea baseada em uma estrutura de fibras de colágeno irregulares, o que facilita sua degradação e sua recomposição.

Logo que um folículo (estrutura que dará origem à gema do ovo) amadurece no ovário, o estrogênio, hormônio responsável pela maturação dos mesmos, produzido por ele atua em sinergismo com andrógenos, induzindo a formação de um sistema ósseo secundário nas cavidades medulares de muitos ossos, em especial, os longos. A este sistema ósseo, denominamos ossos medular. A quantidade de osso medular constrói-se rapidamente durante a recria e o período inicial de postura e pode continuar a acumular-se lentamente ao longo do restante da vida produtiva da ave.

Sobre a calcificação da casca do ovo

Durante a etapa de calcificação da casca do ovo nas poedeiras, em torno de 2,4 g de cálcio são necessários em aproximadamente 20 h para produzir a casca de um ovo de peso médio de 60g. Apenas 60 a 70 % do cálcio da casca podem ser providos via alimentação, o restante, deve ser mobilizado das reservas corporais (Driggers e Comar 1949). A calcificação de cada casca é acompanhada pela reabsorção óssea, associada com uma intensa atividade osteoclástica.

O aumento da absorção de cálcio no intestino, durante o período de formação da casca não é suficiente para satisfazer o alto requerimento do Ca. Como a ingestão de alimentos para na primeira hora de escuro, e como a calcificação da casca ocorre, principalmente durante o período sem luz, uma porção considerável de cálcio deve ser mobilizada das reservas ósseas. Uma estimativa desta proporção é de 20 a 40 % de todo o cálcio da casca (Bar, 2009).

Durante períodos com luz natural ou artificial, a poedeira, através da ingestão de cálcio da dieta, mantém seu organismo em homeostase. No período da noite, onde não há oferecimento de cálcio, caso a poedeira esteja formando a casca do ovo, há uma mobilização óssea, o suficiente para evitar má calcificação da casca. Após a postura do ovo, os osteoblastos são ativados e regeneram o osso medular.

O osso medular desaparece gradualmente durante o período produtivo, de acordo com a demanda de cálcio para formação da casca, e a formação de osso estrutural recomeça à medida em que o animal diminui sua demanda de cálcio para formação da mesma. Este ciclo de perda de massa óssea estrutural durante a postura, seguida por regeneração é fundamental para que a galinha possa manter a boa qualidade do osso ao longo de sua vida (Sugiyama 1992).

Do ponto de vista nutricional, devemos estar atentos ao atendimento das demandas de minerais, em especial cálcio e oligoelementos, responsáveis pela composição da matriz onde o cálcio irá se depositar na casca dos ovos. Além disso, fatores anti-nutricionais e tóxicos, naturalmente presente nos alimentos, que podem vir a prejudicar a absorção intestinal de cálcio, devem ser cuidadosamente monitorados.

A importância de uma boa recria, proporcionando à ave uma boa formação óssea,é fundamental. Além desse passo, um manejo correto no fornecimento de cálcio, utilizando percentuais distindos, de granulometrias específicas de acordo com as idades das aves, miniminiza problemas ocasionados durante o processo de recria e consequentemente proporciona aos animais, uma condição óssea interessante para que possam ter uma boa persistência de postura, aliada ovos com boa qualidade de casca e com o mínimo de prejuízo orgânico, estendendo a vida útil dessa ave.

Referências

BAR, A., 2009. Calcium transport in strongly calcifying laying birds: mechanism and regulation. Published in: Comparative biochemistry and physiology, Part A: Molecular & integrative physiology. 152:447-569.

 DRIGGERS, J. C. E COMAR, C.L., The secretion of radioactive calcium in the hens egg. Poultry Sci. v28, p. 420-424, 1949.

 FLEMING, R. H., McCORMACK, H. A., McTEIR, L., WHITEHEAD, C. C., Medullary bone and humeral breaking strength in laying hens. Res. Vet. Sci., v. 64, p. 63-67, 1998.

SUGIYAMA, T., KUSUHARA, S. Ultrastructural changes os osteoclasts on hen medullary boné during the egg-laying cycle. Poultry Science, v. 34, p. 471-477, 1992.

WHITEHEAD, C.C. Overview of bone biology in the egg-laying hen. Poultry Science, v. 83, p. 193-199, 2004